Pancadaria – Por dentro do épico conflito Marvel vs DC é o livro que todo fã de quadrinhos deveria ler


Para os fãs de Cultura Pop, algumas perguntas são cruciais, e acabam por definir drasticamente a forma como você vai agir, se vestir, quais filmes e séries vai ver, quais quadrinhos irá comprar. Tudo isso para tentar se encaixar em alguma fã base, e por consequência, conseguir fazer novas amizades.

Um dos questionamentos mais recorrentes no mundo geek é, você é fã da DC ou da Marvel? Durante décadas, essa simples pergunta gerou diversas discussões - um tanto quanto acaloradas -, travadas por fãs de ambas as editoras e que, no decorrer dos anos, passaram a ser mais diretas e violentas. Encabeçadas pelas editoras, elas passaram a utilizar essa rivalidade para fomentar seus quadrinhos e, assim, impulsionar as vendas de comics.

Pensando nessa grande rivalidade foi que o jornalista norte-americano Reed Trucker lançou o livro: Pancadaria – Por dentro do épico conflito Marvel vs DC, que traz nada mais do que os bastidores da tão comentada disputa entre editoras, e eu garanto a vocês meus caros leitores, ela é bem pior do que parece e do que os fãs sabem.

Trucker detalha todos os acontecimentos, desde do lançamento da Action Comics #1 e a estreia do Superman, até o sucesso da Marvel Studios no cinema. Por ser um freelancer e autor que escreve principalmente sobre cultura pop e entretenimento, o autor já tem mais facilidade para trabalhar com o tema, apresentando, além de fatos históricos, trechos de depoimentos de várias pessoas de dentro das duas empresas, até de fãs e de donos de lojas de quadrinhos.

Capa da Action Comics #1 com a estreia do Superman - Foto: Reprodução da Internet
O interessante no livro, além de saber a história, é que ele serve para abrir os olhos de alguns fãs mais radicais (tanto da Marvel quanto da DC). Um dos casos que me chamou atenção, é a questão envolvendo a Patrulha do Destino e os X-Men, que até hoje não foi resolvido se os mutantes foram plágio, inspiração ou apenas um acaso em relação ao grupo da DC (não entrarei em detalhes ainda, pois esse tema vai ser falado em uma matéria futura). Essa situação é apenas uma das milhares que aconteceram durante toda a história das editoras.

Irei pedir desculpas a alguns amigos que como eu, são fãs da DC, porém, que às vezes precisam ouvir e ler algumas verdades. E claro, aos da Marvel também, já que nesse cenário, os dois lados são colocados contra a parede, e acabam tendo culpa no cartório.

A DC sempre de gabou de sua superioridade nos quadrinhos, e realmente isso aconteceu no início da publicação de seus personagens, especialmente Superman, Mulher-Maravilha e Batman, porém, a grande questão é que a editora se manteve com o mesmo pensamento por mais de três décadas, e isso fez com que a Marvel caísse nas graças do consumidores, pois a A Casa das Ideias começou a investir em histórias focadas no mundo real, e que dialogavam com os jovens de cada época.

Esse simples fato fez com que a DC ficasse para trás e é aí que a situação fica delicada: vários fãs se gabam de que a Marvel copiou a DC (em relação a seus personagens), porém, a própria DC, através dos anos, tentou replicar a fórmula de vendas da Marvel, o que não deu muito certo, já que a editora sempre perdia o momento certo para lançar algo.


Stan Lee, um dos grandes nome dos quadrinhos de super-herói - Foto: Reprodução da Internet
Outro ponto que Trucker apresenta no livro é o começo da rivalidade entre as empresas. Stan Lee sempre fez piadas em relação a DC, a qual ele chamava de Distinta Concorrência, e durante anos a DC levou essas piadas da formas que elas eram, piadas, porém, no começo do século XX, quando a Marvel ganhou um novo presidente, Bill Jemas, foi que a situação mudou drasticamente e a rivalidade se tornou totalmente agressiva, especialmente falando, por parte da Marvel contra a DC, já que Jemas fazia questão de insultar a concorrente publicamente, exaltando a superioridade da Marvel na venda e na produção de suas histórias.

Querendo ou não, essa atitude possivelmente acabou se revertendo para alguns fãs mais radicais da editora, que acabam se vendo como superiores e não perdem a oportunidade de insultar os fãs da DC. Costumo falar que quando alguém faz uma postagem sobre a DC no Facebook, aparecem mais fãs da Marvel do que da DC para falar sobre ela.

Por conta da internet e das redes sociais essa rivalidade está chegando a um nível extremo, impulsionado agora pelo sucesso (merecido) da Marvel no cinema, já que seus fãs se utilizam disso para menosprezar os fãs da DC.

Kevin Feige, o homem por trás da Marvel Studios - Foto: Reprodução da Internet
Um outro fator interessante é que o autor apresenta também o processo de surgimento do primeiro filme de super-heróis da história, e que viria a moldar tudo que seria lançado depois, incluindo, seria o filme que serviria de inspiração para Kevin Feige criar todo o tom do Universo Cinematográfico Marvel e sua tão elogiada Fórmula Marvel.

Trucker apresenta os bastidores de Superman - O Filme, de 1978, que é um marco no cinema de super-heróis. Existe basicamente um consenso entre os fãs das duas editoras a respeito desse filme e de sua importância para a indústria.

O livro também mostra as trocas de artistas entre as editoras, como a saída de Jack Kirby da Marvel, indo para a DC, e depois seu retorno a Marvel. O início das carreiras de Alan Moore, Frank Miller, e outros grandes nomes dentro da indústrias.

Jack Kirby e Alan Moore - Foto: Reprodução da Internet
Trucker também traz um capítulo dedicado especialmente ao cinema, mostrando a trajetória da Marvel em se tornar o grande império que é hoje no cinema, e as tentativas da DC em conseguir acompanhar. Algumas pessoas (para não dizer muitas) vão criticar o autor, falando que ele é um marvete, simplesmente por ele ter criticado a forma como a DC conduziu seu universo compartilhado, ou tentativa dele. Querendo ou não, Trucker está certo.

Em uma tentativa de correr atrás do tempo perdido a Warner/DC acabaram criando filmes insatisfatórios e que dividem os fãs. Os únicos que se salvam disso acabam sendo Mulher-Maravilha e Aquaman, que parecem ser o rosto de uma nova estratégia, que não está ligada a conectar todos os filmes de fato, mas sim ir fazendo aos poucos seus filmes isolados.

Outro erro da Warner foi tentar recriar a fórmula Nolan que deu certo na trilogia do Cavaleiro das Trevas em filmes como Homem de Aço. Aquele universo sombrio e monocromático não combina com o Superman, a maior prova disso é que a imagem do personagem no cinema se tornou saturada (em Batman vs. Superman: A Origem da Justiça ele basicamente virou um coadjuvante) e que foi preciso matá-lo para que ele voltasse sendo de fato o símbolo de esperança que era para ser desde o começo.

Agora parece que a Warner/DC está conseguindo seguir um novo rumo com cinema, Aquaman e Mulher-Maravilha são provas disso, já que seus respectivos diretores, James Wan e Patty Jenkins, tiveram uma maior liberdade para trabalhar com os personagens, sem a direta intromissão dos executivos do estúdio.

Ainda é possível ver que os filmes levam a mesma atmosfera do Superman de Christopher Reeve, e que não tem medo em apostas nas cores vibrantes, no heroísmo e no humor, tudo na hora certa. Todo filme é passível de erros, porém, aprender com esses erros e melhorar é o que faz um bom diretor, e é essa visão que a Warner parece ter tomado agora, aprender com seus erros e melhorar a partir daí.

Christopher Reeve no papel de Superman no filme de 1978 - Foto: Reprodução da Internet
A reestruturação da Warner/DC também permitiu que pessoas da New Line Cinema, um estúdio que também pertence a Warner, assumissem cargos dentro da divisão de cinema da DC, como foi o caso de Walter Hamada, que atuou como produtor executivo de filmes como Invocação do Mal 1 e 2, Annabelle, Quando as Luzes se Apagam e IT - A Coisa, todos pela New Line.

Em 2018 ele assumiu o posto de presidente de produção cinematográfica da DC e foi a partir daí que as mudanças de fato começaram a ser vistas. A ideia de universo compartilhado foi deixada de lado por Hamada, que quer explorar os filmes solos, para que eles floresçam a seu próprio tempo e se desenvolvam sem pressa. Com Hamada, parece que finalmente a DC encontrou seu rumo no cinema.

No final, Pancadaria – Por dentro do épico conflito Marvel vs DC tem um objetivo, mostrar que, tanto a Marvel quanto a DC possuem suas vantagens e desvantagens, e que, querendo os fãs da DC admitirem ou não, a empresa se baseou em muito no que a Marvel publicou e em sua estratégia de marketing. O livro serve como uma tentativa de abaixar o ego dos dois lados, já que o atual cenário de disputa entre os fãs, pode ter se iniciado com os insultos de Bill Jemas alguns anos atrás.

Todo fã de quadrinhos deveria ler esse livro e começar a entender e a repensar algumas de suas atitudes, especialmente ao que diz respeito a comentários desnecessários e ofensivos, que infelizmente é algo que se alastra dentro da comunidade nerd/geek.

Ficha Técnica
Título: Pancadaria – Por dentro do épico conflito Marvel vs DC
Autor: Reed Trucker
Editora: Fábrica 231
Número de páginas: 336

Gostou do livro? Adquira aqui:

1 comentários

My Instagram