Meio Rei - Joe Abercrombie: uma jornada completa


Essa é a segunda série de romances que estou lendo do premiado e competente Joe Ambercrombie. A primeira foi a (ótima) trilogia da Primeira Lei. A trilogia, Mar Despedaçado, está sendo lançada aqui no Brasil, também pela editora Arqueiro. O primeiro livro da série, Meio Rei, 288 páginas, já mostra que o tom da série é um pouco mais leve alinhado ao público adolescente/jovem adulto, mas ainda com um toque de brutalidade e sarcasmo característico das outras obras do autor.

Há um certo desafio em escrever sobre um livro evitando gerar spoilers. Tentaremos...

Meio Rei conta a história de um jovem príncipe que nasceu com uma das mãos inúteis e deformada. Seu destino não era o trono e foi treinado para assumir um posto de conselheiro religioso/político, mas uma reviravolta o coloca como sucessor direto do trono, sendo que muitos em seu reino, onde os reis por tradição precisam mostrar a força de guerreiro, não vêem com bons olhos a ascensão de um rei fraco e aleijado.

É uma jornada de sofrimento, crescimento e busca pela vingança. O jovem príncipe vai então circular pelos reinos da região conhecida como Mar Despedaçado numa jornada pela sobrevivência e na conquista de aliados improváveis para tentar cumprir seu destino e as promessas que realizou.

“Posso até ser meio homem, mas sou capaz de fazer um juramento por inteiro.”


A narrativa bem construída de Abercrombie revela personagens que conquistam o leitor. É um livro com algumas reviravoltas bem construídas em que o final não é exatamente aquele que poderíamos esperar. É uma jornada cheia de emoções, perigos e de transformações.

Uma das características interessantes na construção de personagens do autor é a presença de personagens ausentes, que trazem frases de efeito no diálogo interno. É o caso dos pais do protagonista e também sua mentora que, mesmo ausentes, se fazem presentes nos ensinamentos que deixaram gravados em sua mente.

Em relação aos coadjuvantes, o autor falha um pouco ao não se aprofundar e distinguir alguns deles, deixando uma sensação de confusão em relação a seus papéis, na medida em que outros ficam muito bem definidos e cativantes.

O livro tem um ritmo quase perfeito, considerando livros que fazem o leitor querer ler o próximo capítulo, mas perto do clímax, há uma quebra por cerca de três capítulos e não chega a atrapalhar demais. É totalmente compensada pelos capítulos finais, especialmente, o último.

A série, ao menos neste primeiro volume, pode ser caracterizada como de “baixa fantasia”, uma vez que há muitos poucos elementos fantásticos, além do fato de se passar num mundo imaginário. Não há presença de magia e outras raças, exceto elfos que são citados como uma raça já extinta. O aspecto religioso e as divindades muito citadas para construção da ambientação, também não dão sinais de que são capazes de produzir qualquer efeito divino/mágico, representando mais crenças, do que poderes divinos reais que podem ser vistos em outras obras de fantasia. Se comparado com Game of Thrones, por exemplo, há alguns exemplos de que a crença em divindades gera alguma influência mágica no mundo, como fica evidente nos efeitos evocados pelos sacerdotes ou sacerdotisas vermelhas, devotos do senhor do fogo.

Acredito que é um livro que vai cativar novos leitores, ou mesmo aqueles que já leram a série Primeira Lei, desde que estejam cientes do tom menos sombrio e linguagem “mais moderada” da obra. Talvez, mais leitores homens do que mulheres, visto que é uma aventura de conflitos centrado num protagonista masculino e o aspecto de romance é bem secundário. Ao menos uma das antagonistas, a capitã do navio Vento Sul, é uma forte e interessante personagem feminina. Ao que parece, o segundo livro da série, tem melhores chances com o público feminino, uma vez que uma das protagonistas é uma garota.

Fica a dica para essa obra de fantasia de um dos maiores expoentes contemporâneos do gênero.

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