Indiana Jones e a Relíquia do Destino é sobre preservar as memórias do passado, apresentadas no presente para poder projetar nosso futuro


O tempo é uma dimensão que fascina a todos ao longo da história da humanidade. Na audácia de conquistar o tempo, criamos sistemas, conceitos, regras, etc. Porém, uma das formas mais eficientes de conquista do tempo é quando contamos histórias. Podemos viajar para qualquer momento histórico real ou fictício, até mesmo visitar outras dimensões e multiversos. Além de escritores, enciclopedistas, museólogos, os arqueólogos têm um papel crucial na construção da percepção do nosso tempo. A missão de preservar pedaços de memória como os artefatos é crucial para entendermos o passado e quando isso é aplicado no cinema o encantamento instantâneo se estabelece. Quem não imagina um artefato que proporciona você a visitar momentos históricos, ou até mesmo desfazer momentos indesejados de sua própria vida? Essa é uma das questões principais apresentadas no novo filme de Indiana Jones.

Indiana Jones e a Relíquia do Destino é dirigido por James Mangold (Logan, 2017) e escrito em parceria com  John-Henry Butterworth, Jez Butterworth e David Koepp. Produzido pela Disney e Lucasfilm, o longa é uma sequência do filme Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal (2008). Estrelando Harrison Ford como Indiana Jones, Phoebe Waller-Bridge como Helena Shaw, Mads Mikkelsen como Jürgen Voller, Toby Jones como Basil Shaw e Ethann Isidore como Teddy.

O filme inicia com uma bela sequência de ação ao final da segunda guerra mundial trazendo os nazistas novamente ao posto de antagonistas históricos. Indiana Jones e seu escudeiro Basil Shaw estão em busca da Lança do Destino para entregá-la a um museu, afinal de contas esse é um dos principais objetivos de um arqueólogo. Porém, no meio do processo eles descobrem que a lança é na verdade uma réplica, e são apresentados por acidente a Máquina de Anticítera pelo antagonista do filme Jürgen Voller. A partir disso, eles precisam escapar com vida e ainda resgatar o novo artefato.

A apresentação da premissa chama atenção por ser um longo momento no passado cheio de ação e por mostrar Indiana Jones e Jürgen Voller mais novos, com efeitos digitais bem satisfatórios, mesmo nas sequências de ação mais movimentadas e em closes com expressões clássicas do protagonista, uma tarefa desafiadora diga-se de passagem. Nos momentos do antagonista  ficou praticamente imperceptível o efeito, pois o mesmo estava em menos cenas e momentos mais estáticos. Demonstrando que realmente é um caminho sem volta a representação a partir de maquiagem digital, captura de movimento e inteligência artificial, tema antecipado pelo filme The Congress (2013), mas esse é um assunto para outro texto.

Após escaparem por pouco com o novo artefato, o filme salta para 1969 onde vemos Indiana Jones com mais idade, professor, separado, em processo de se aposentar e amargurado pela perda de seu filho na guerra. Em uma de suas últimas aulas uma aluna o surpreende por saber detalhes sobre o Período Helenistico, mencionando inclusive a Máquina de Anticítera. Em seguida Jones descobre que a aluna é  Helena Shaw, filha de Basil Shaw e está ali para tentar conseguir o artefato resgatado na segunda guerra. Conseguindo ludibriar Indiana Jones ela leva o artefato com intuito de vender em leilão clandestino, porém ela não contava que Jürgen Voller ainda está atrás do artefato.

Nessa jornada de descoberta ao longo do filme nos deparamos com diversos personagens carismáticos como Teddy, um garoto fiel companheiro de Helena, violões emblemáticos, personagens do passado reprisados por seus devidos atores e atrizes, tudo com muito humor, drama e a dose certa de aventura. O filme conta com estrutura e temas presentes nos longas anteriores mixados de maneira eficiente, nos envolvendo em uma clássica aventura de Indiana Jones, trazendo nostalgia sem abrir mão da qualidade do roteiro, como por exemplo o desenvolvimento da relação de Indiana Jones com Helena Shaw e Teddy. As motivações de Jürgen Voller e as reviravoltas que o contemplam. Além disso, presenciamos o preço que Indiana Jones pagou por viver sob seus próprios termos e sua busca em sua profissão, pelo conhecimento. Inclusive, esse elemento é trabalhado de maneira interessante em relação a Helena e suas motivações no filme.

Indiana Jones e as Relíquias do Destino é uma bela surpresa. Um filme de ficção científica onde acompanhamos uma verdadeira viagem no tempo, por diversos momentos históricos importantes da humanidade, com muito mistério e diversão. O filme não só consegue nos fazer viajar por esses momentos, mas também pelas nossas memórias dos filmes anteriores e por momentos significativos que esses filmes representam em nossas vidas. Talvez cumprindo a missão principal do arqueólogo Indiana Jones, em preservar as memórias do passado, apresentadas no presente para poder projetar nosso futuro.

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