Colecionador de Hominhos | Quanto vale a sua coleção?


Por Breno “Arkade Joe” Scafura

Olá pessoal!

Antes de tudo, gostaria de agradecer os até então feedbacks sobre a coluna. É sempre bom poder ouvir elogios e críticas construtivas. Opiniões sempre engrandecem de alguma forma o nosso trabalho, por isso eu estou sempre buscando tirar o máximo de proveito daquilo que me dizem, tanto sobre a coluna, quanto sobre outras instâncias da minha vida.


Pois vamos ao que interessa. O assunto da vez é sério, tão sério ao ponto de protagonizar as discussões mais tenebrosas que eu já vi dentro das comunidades de colecionadores. Para começar nossos trabalhos, quero lhes fazer uma perguntinha despretensiosa: Quanto vale a sua coleção?

Alto lá, meu amigo (a)! Eu não quero comprar a sua coleção. Também espero que você não tenha se sentido desconfortável ou ofendido de alguma forma pela pergunta, afinal de contas, o valor de uma coleção é realmente um tema delicado, influenciado por diversas outras questões mais complexas.

Temma delicado. Ba dum tisss!

Depois de refletir sobre o que eu disse, você, jovem padawan do mundo dos colecionadores deve estar pensando: “Mas Arkade Joe, por que falar sobre  o valor de um item ou coleção é tão tenso desse jeito?”. Para responder esta pergunta eu, primeiramente bom dia, precisarei tentar esclarecer algumas coisas a respeito do mercado interno brasileiro. De antemão aviso que não sou nenhum estudioso de economia ou ciências contábeis. Meu conhecimento nesta área é bem raso, então me deem um desconto.

Vivemos em um país onde o mercado interno é protegido por uma série de medidas administrativas. Algumas dessas medidas são os bons e velhos impostos. Produtos importados recebem uma grande carga tributária para chegar, legalmente, no país. Como a maioria dos hominhos ou artigos colecionáveis são fabricados fora do Brasil, é comum que estes produtos tenham um valor acima da média quando comercializados em solo brasileiro. Esta explicação básica serve de panorama para começarmos a nossa discussão no que tange o valor de uma coleção.

A valorização do dólar é um dos motivos que contribuem para a valorização
dos colecionáveis em solo nacional

Como dito acima, além das diversas barreiras que o colecionador encontra, no Brasil, o preço se torna uma das mais complicadas. Peças nem tão valorizadas ou bem acabadas se tornam caríssimas no mercado nacional. Por isso, muitos colecionadores optam por importar a maioria dos itens de sua coleção. Ponha-se no lugar de uma criança que passa o ano inteirinho guardando moedas no porquinho para comprar aquele boneco dos Power Rangers que troca de cabeça e fala “its morphing time” (exemplo meramente ilustrativo). É óbvio que este moleque vai amar seu Power Ranger. Ele esperou tanto tempo, mentiu diversas vezes para a mãe sobre o troco do pão, ficou sem comer no colégio e acabou emagrecendo 3 quilos só para poder comprar o seu tão sonhado brinquedo. Quando aplicamos esta premissa aos colecionadores podemos enxergar uma certa semelhança.

Fazer aquela dieta básica para terminar a coleção

O colecionador se dedica durante anos ao seu hobbie. Ele acompanha o cenário da sua coleção, se programa para comprar os lançamentos, entra em comunidades para discutir temas sobre seus colecionáveis e até tentar prever os próximos possíveis passos das empresas que produzem os itens de suas coleções. Por questões claras, todo esse tempo investido acaba agregando valor a sua coleção. O preço de mercado, muitas vezes, não condiz ao sentimento do colecionador para com a sua coleção. Eu, por exemplo, nunca venderia nenhuma das minhas figuras, independente do preço de mercado.

Se avaliássemos o valor de um determinado item de acordo com o valor agregado pelos colecionadores, as figuras teriam preços demasiadamente variáveis. É como diz aquele velho ditado, “o lixo de uns é o tesouro de outros”. Diante disso, algumas circunstâncias devem ser analisadas para que possamos saber quanto vale "realmente" a figura em foco.

Os pontos mais comuns a serem analisados costumam ser:

1 - Quanto ao preço de mercado médio na época do lançamento.

2 - Quanto à raridade da figura.

3 - Quanto ao ano de fabricação (coleções de lotes mais antigos costumam ser mais difíceis de serem encontradas no mercado, tendendo a se tornarem mais raras).

4 - Quanto à resposta da comunidade (algumas figuras tendem a ser mais requisitadas, seja pela qualidade, pela popularidade do personagem representado ou dentre outras razões).

5 - Quanto à exclusividade da figura (existem figuras exclusivas de eventos, figuras promocionais ou edições limitadas).

Sinceramente, eu não vejo problema em “coisificar” a minha coleção. É interessante saber quanto vale realmente cada figura, facilita em muito na hora de comprar um novo item. Sem a especulação de preços, o mercado de colecionáveis seria uma verdadeira loucura, cada um colocando um preço diferente no mesmo item.

O verdadeiro problema da “coisificação” dos colecionáveis são as situações desencadeadas por ela. Quando isso ocorre, para muitos, as coleções se tornam apenas cifrões, valores em dinheiro. Na postagem anterior, eu acabei falando de alguns dos tipos clássicos de colecionadores que habitam as comunidades de colecionáveis. Dentre eles, um em especial é fruto direto da “coisificação” dos colecionáveis. Eles são os “Cambistas”. Os “Cambistas” são colecionadores que costumam comprar suas figuras já pensando na possível valorização de cada item. O objetivo da maioria deles é se desfazer dos itens quando seus preços no mercado chegarem a um valor mais expressivo. Muitos deles tentam vender as figuras a preços elevados, apostando que algum desavisado possa comprar. A verdade é que existem muitos desavisados de plantão e esse é um dos objetivos desta postagem, alertar os colecionadores mais inexperientes.

Colecionáveis são moedas de troca em bancos de transplante

Apostar nos colecionáveis é apostar, lidar com probabilidade, porém, um comprador experiente sabe exatamente quais itens tem maior propensão de se tornarem mais caros. Como muitos colecionadores seguem esse tipo de tendência especulativa ou acabam cedendo ao lado negro quando uma de suas figuras está supervalorizada, os preços de muitas figuras, consequentemente, se tornam inviáveis. Para mim, aquele que dá mais valor ao dinheiro do que a sua própria coleção está só perdendo seu tempo. Do que adianta você ter uma coleção cheia de figuras que se tornaram raras ou muito desejadas se você no final das contas vai vendê-la para comprar uma televisão de última geração? Não estou aqui julgando quem acaba tendo que vender algum item de coleção para pagar alguma dívida ou coisa do gênero. Meu objetivo aqui é relembrar o motivo do qual os colecionadores deveriam colecionar: prazer.

 Essa foto foi tirada momentos antes de eu começar a violar está caixa

Eu sinto prazer em abrir uma caixa lacrada, sentir o cheiro do plástico dos blisters. Eu sinto prazer quando uma nova encomenda chega na portaria e eu tenho que assinar o formulário de entrega. Eu sinto prazer em fazer uma pré-venda e esperar ansiosamente pelo item que acabei de comprar. Eu sinto prazer em colecionar.

Me parte o coração ver que as comunidades de colecionáveis viraram grandes feiras livres e mercados de especulação. Montar uma coleção virou meio que investir na bolsa de valores. Você compra determinada figura esperando que ela valorize para vender e continuar o ciclo. Deve ter gente ganhando dinheiro nesse esquema. Estou quase pedindo uma CPI para investigar aqueles que compram por “cambismo”. Assim a gente montava uma lista e saia divulgando por ai. Com certeza ia dificultar as coisas para esses ordinários.

Tentei resumir aqui a minha opinião sobre toda essa polêmica que gira em torno do que eu chamei de “coisificação” das coleções. Por fim, eu mesmo gostaria de responder a pergunta que fiz no início deste texto: “Qual é o valor da sua coleção?”

Arkade Joe: A minha coleção não tem preço. O valor dela já é muito mais do que simbólico. Fico triste com o rumo que as coisas vêm tomando. O sentimento de colecionar é meio que deturpado por algumas pessoas que acham que o colecionismo é como jogar na loteria. Se você, leitor, pretende começar uma coleção algum dia, não se prenda aos valores. Não estou dizendo que você não deva pesquisar ou comprar qualquer figura por ai, mas lembre-se sempre do motivo que o fez começar a colecionar.

Pode parecer um discurso socialista, mas, na maioria dos casos, o dinheiro só gera intriga. Já presenciei diversas discussões sobre valores, algumas com fundamento e outras não. Cada um dá o valor que quiser a sua coleção, porém, nem todos são obrigados a concordar com ele. Por isso, atenho-me ao valor sentimental das minhas peças e o quanto elas significam pra mim. Se algum dia, por desventuras da vida, eu tiver que vender algum item da minha coleção, tentarei vender pelo preço mais justo possível. Não concordo com preços de figuras que inicialmente valiam R$ 100 e agora valem quase dez vezes mais do que isso. Não acho justo para com a comunidade perpetuar essa inflação.

Sem mais delongas, gostaria de dizer que tenho figuras de todos os tipos. Grandes, miniaturas, articuladas, estátuas, raras, comuns, baratas e até mesmo algumas bem carinhas. Porém, no final das contas o que importa mesmo é a sensação que o colecionismo me proporciona. Colecionar é como é como ter aqueles personagens tão queridos mais próximos de mim, e essa sensação, meu caro (a), é sem sombra de dúvidas impagável.

Colecionando e relaxando

E você? O que acha disso tudo? Qual é o preço da sua coleção? Caso queira expor sua opinião, deixe seu comentário aqui na coluna ou em qualquer outro lugar. O importante é perpetuar a mensagem.

Muito obrigado pela sua atenção :).

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