The Last of Us: Sonhos Americanos aprofunda história de Ellie


Distopias e mundos pós-apocalípticos nos intrigam e fascinam. Imaginar o futuro sem saída e destruído é um exercício interessante. A ficção científica tem um extenso histórico de trabalhar esse tema, com histórias marcantes e profundas, abordando a contradição do progresso tecnológico na humanidade e os impactos na forma como nos organizamos em sociedade.

Joel e Ellie The Last of Us PS3

The Last of Us é uma dessas obras aclamadas pela crítica especializada e cultuada pelos fãs. No jogo principal, lançado em 2013 pela Naughty Dog como exclusivo para o console Playstation 3, nós acompanhamos a jornada de Joel e Ellie em um mundo devastado por um fungo que transforma uma boa parte da população mundial em seres animalescos e fisicamente deformados.

Humano deformado pelo fungo Cordyceps

Além de mostrar toda a degradação da sociedade naquele momento, em consequência do rompimento do tecido social, o jogo realiza um excelente trabalho no desenvolvimento dos personagens e suas relações uns com os outros. Destaque especial para a relação de Joel e Ellie que nos leva a um final surpreendente e estarrecedor, um assunto para outro momento, pois em The Last of Us: Sonhos Americanos somos transportados para um momento anterior dos acontecimentos do jogo principal.

O quadrinho foi lançado nos Estados Unidos em meados 2013 pela Dark Horse Comics em uma sequência de 4 capítulos, posteriormente compilados em uma única edição no final do mesmo ano. Escrito pelos criadores do jogo Neil Druckmann, Faith Erin Hicks e colorido por Rachelle Rosenberg, no Brasil o quadrinho foi lançado na versão compilada pela editora New Pop em dezembro de 2016.

Ellie presenciando execução de inocente 

Sonhos Americanos conta a história da chegada de Ellie a um escola militarizada em uma zona de quarentena, tempos depois do surto do fungo. Aos cuidados de um soldado que rejeitou cuidar dela, Ellie teve que aceitar o seu destino de ser transferida. Logo ao descer do ônibus que a levou, nossa protagonista se mete em uma briga e acaba sendo cercada por um grupo de garotos, mesmo não levando desaforo para casa e partindo para o ataque ela não consegue dar conta da quantidade. Eis que surge Riley, uma garota de idade e estatura semelhantes a de Ellie, que dá conta de colocar o grupo de garotos para correr. Após toda a confusão Ellie percebe que um de seus pertences desapareceu e logo relaciona à ajuda de Riley, que aproveitou um descuido e a furtou.

Riley ajudando Ellie

Logo de início nos é mostrado uma sociedade extremamente violenta, vigilante e repressora. Tudo justificado pela noção de segurança das pessoas e controle do fungo. Os efeitos desse cenário são claramente vistos nos comportamentos dos personagens, desde crianças, adolescentes e adultos. Todos parecem adaptados aquela realidade, todo tipo de atrocidade é normalizada e justificada.

Ellie em estado de choque relembrando situações traumáticas

As atitudes pragmáticas e instrumentais dos personagens são contrastadas em alguns momentos pelas atitudes de Ellie. Mesmo em clara situação de estresse pós-traumático ela sente a necessidade de se relacionar de maneira afetiva com outras pessoas. Passamos a conhecer melhor a dinâmica das emoções de Ellie: em certo momento muito confiante e destemida e em outros desconfiada das pessoas e incerta de seu futuro.

O quanto de nossas incertezas podemos esconder em rompantes de coragem? Por quanto tempo conseguimos aguentar situações de extrema repressão, levando-nos ao limite de nossa resiliência? Qual a nossa real necessidade de mantermos relações significativas com outras pessoas? Esses questionamentos são levantados ao longo da jornada de Ellie e Riley.

Riley e Ellie na DLC Last Behind

Além disso, o quadrinho é repleto de reviravoltas e revelações interessantes que constroem uma dinâmica que oscila entre tensão e alívio, medo e bravura, desprezo e compaixão. É importante ressaltar que os desdobramentos dessa história estão na DLC lançada 2014 para Playstation 3 The Last of Us: Left Behind, aprofundando ainda mais a relação entre Riley e Ellie e criando uma ponte para o início do jogo principal.

Ellie tocando violão em trailer de The Last of Us II

Ler o quadrinho renovou minhas expectativas para The Last of Us 2 e me fez querer conhecer ainda mais os desdobramentos da história de Ellie, principalmente depois do final do jogo. Até o momento cogita-se que o lançamento será entre o final de 2018 e meados de 2019, exclusivo para Playstation 4. Vamos torcer que eles também lancem mais quadrinhos nesse formato, contando mais histórias desse universo.

Ficha Técnica:
Título: The Last of Us: Sonhos Americanos
Editora: New Pop
Roteiro: Neil Druckmann e Faith Erin Hicks
Arte: Faith Erin Hicks
Cores: Rachelle Rosenberg
Capa: Julián Totino Tedesco
Número de Páginas: 104

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