Corra! cria suspense pertubador e honra o gênero com reviravoltas surpeendentes


Tratar de preconceito e questões raciais, seja nos cinemas, seja na TV, certamente é algo difícil em 2017. Com altas tensões, o tema nem sempre é bem abordado, abrindo muitas portas para pesadas críticas e desgosto do público. No suspense Corra! (Get Out), o diretor Jordan Peele leva essa questão a um nível completamente diferente, narrando um conto inesperado e uma ambiência creepy e um tanto perturbadora.

A história segue Chris Washington (Daniel Kaluuya), um jovem negro que está a caminho de conhecer a família de sua namorada caucasiana Rose Armitage (Allison Williams) em uma cidade do interior. Apesar das constantes reafirmações de Rose de como sua família nunca se importou com a cor da pele de quem ela se relacionava, Chris demonstra evidente preocupação, que rapidamente se transforma em algo mais sério quando percebe que a aparente família tradicional guarda um segredo que pode por em risco sua vida.

Um ponto marcante do longa é a constante sensação de que algo está errado. A produção é feita para que, desde o começo, o espectador fique a beira de sua cadeira enquanto vivencia uma tensão real, que vem à tona com intensas músicas e desconcertantes olhares e reações dos personagens na casa dos Armitage.

Chris (Daniel Kaluuya) se vê como um total estranho em meio à perturbadora comunidade dos Armitage - Foto por Justin Lubin - © 2016 Universal Pictures

A medida que Chris conhece mais da comunidade que frequenta a casa dos pais de Rose, sua preocupação se transforma em uma paranoia, chegando a ser, de certo modo, transportada para o público que busca compreender o que se passa naquele esquisito cenário.

Dito isso, fica fácil perceber como o filme bebe da fonte de The Stepford Wives (1975), que teve como adaptação mais recente o remake Mulheres Perfeitas de 2004, com Nicole Kidman. Assim como esses filmes, Corra! trabalha bem com o desenvolvimento da trama, que vai revelando aos poucos o que realmente está acontecendo.

Outra dimensão muito bem abordada na narrativa é o trauma de Chris sobre a morte de sua mãe. Afundado em questões extremamente psicológicas, o tema é frequentemente trazido em variadas situações, mostrando uma evolução do personagem de um grande sentimento de culpa a um ponto de aceitação.

Em meio a essa abordagem, são ainda tratados elementos satíricos que ajudam a digerir a história e até puxam algumas boas risadas (de medo e de humor). Enquanto o filme é principalmente carregado no suspense, as pontuais inserções do personagem Rod Williams (LilRel Howery), o amigo de Chris, são hilárias e o fazem merecer ganhar uma história exclusiva para si.

Os pais de Rose, interpretados por Bradley Whitford e Catherine Keener, estão no centro do suspense da trama - Foto por Justin Lubin - © 2016 Universal Pictures

O diretor estreante, escritor e coprodutor Jordan Peele consegue amarrar as diferentes facetas da obra em um trabalho interessante e intenso. Conhecido por tradicionalmente trabalhar com comédias, o diretor faz um excelente trabalho em criar e manter a tensão em um filme de suspense que cada vez mais tem se tornado difícil de ver.

A fotografia e o som são, de mesma forma, importantes elementos que ficam bem integrados com a trama e ajudam a construir esse clima almejado pela direção.

Ainda que a questão principal seja racial, o longa toma, perto do seu fim, uma reviravolta surpreendente, mas que traz, a todo o tempo, uma série de pistas para que o próprio espectador compreenda a situação.

Corra! aproveita, desse modo, importantes recursos do suspense e os aplica com maestria em um ambiente fictício, mas ao mesmo tempo aterrorizante, criando suspeitas e incertezas até o encerramento da história.

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