Live Action! #3 | Japão ao vivo!

Boa tarde galera! Estamos começando mais um post semanal sobre live action. Porém essa semana irei fazer uma coisa diferente. Não irei falar especificamente sobre um live action, mais sim sobre a influência do cinema e da televisão no Japão, pois eu acho que não basta só falar sobre os lives actions, mais sim falar dos meios em que eles são exibidos.


Para começar, nada melhor do que dar um contexto histórico. O cinema e a televisão são os vice-campeões em lucratividade do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Cinema, televisão, música, animes e mangás andam de mãos dadas no Japão.

Foi a partir dos anos 50 que os japoneses viram a chegada das telinhas, ao mesmo tempo em que florescia o mercado voltado aos mangás e animes. Nesse mesmo período foi marcado o começo da internacionalização do cinema japonês. Isso, em parte, graças ao talento de Akira Kurosawa.

Akira Kurosawa
Nos anos 60 e 70, a televisão caiu no gosto dos japoneses com a chegada dos primeiros doramas e animes. Já nos anos 80 e 90, foi à época do estopim tanto do cinema nipônico, quanto do anime. Grandes nomes como Akira Toriyama, Katsushiro Otomo e o Studio Ghibli, e mais tarde com grandes obras como Neon Genesis Evangelion, One Piece, Naruto, DragonBall etc. Já em relação ao cinema, Takeshi Kitano e principalmente o filme Ringu, de Hideo Nakata, consolidaram o interesse ocidental nos filmes de terror psicológico japonês. Foi a partir dai que os filmes japoneses começaram a ser adaptados em Hollywood, e conseguiram um espaço nas bilheterias de todo o mundo.

Akira Kurosawa e seu filme em preto e branco, Rashomon, conseguiu ganhar o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1951. Décadas mais tarde, o longa do Studio Ghibli, A viagem de Chihiro, conseguiu cativar os críticos mais exigentes e arrematou uma série de prêmios, garantindo assim um destaque internacional para o cinema japonês.

Atualmente, os japoneses são os lideres da animação. Já no cinema com atores reais, eles também conseguiram um destaque e uma cadeira cativa no cinema internacional. O diretor norte-americano Quentin Tarantino buscou elementos japoneses para colocar em um de seus filmes.

Já falei do aspecto mais amplo em relação ao cinema e a televisão. Agora vamos ser um pouco mais específicos em relação a eles. Começaremos então falando do cinema.

Como já havia mencionado anteriormente, Akira Kurosawa foi o catalisador internacional do cinema japonês na década de 1950. Seus primeiros sucessos foram Rashomon e Os Sete Samurais. Outro nome que teve grande importância na época foi Yasujiro Ozu, criador e diretor de Tokyo Monogatari (Contos de Tóquio) em 1953, um filme totalmente melodramático e com recursos estilísticos importados do cinema norte-americano.

Foi a partir de 1954 que surgiu nas telonas nipônicas o gênero kaijû. Esse gênero é dedicado a monstros gigantes como é o caso de Godzilla e Gamera. O dinossauro mutante Godzilla, foi o primeiro monstro a aparecer nas telonas japonesas, em 1954. Depois de uns anos, o monstro acabou se convertendo em um ícone pop japonês. A origem dele foi devido a um experimento com bombas de hidrogênio (uma clara referência ao ocorrido em Hiroshima e Nagasaki), que fez o dinossauro ficar enorme e destrutivo. Como esse monstro começou a dar muito dinheiro, na década de 1960 estúdios rivais resolveram também criar outro monstro para assim competir com Godzilla. Foi assim que surgiu Gamera. Uma tartaruga monstro, que caminha sobre duas patas e cospe fogo. Esse gênero na realidade é um subgênero do Tokusatsu.

Godzilla e Gamera
Se vocês acham que os filmes norte-americanos tem muita continuação, é porque ainda não assistiram a série de filmes japonês chamado Otoko Wa Tsurai Yo (É duro ser homem). Essa série nasceu no começo dos anos 70 e entrou para o Guiness como a série mais longa da história. São cerca de 48 longas-metragens. A primeira fita apareceu em 1969 e a última em 1995. O enredo é bem simples. Um homem de negócios que está atrás de um amor, porém nunca o encontra.

Não pense que as animações ficaram de fora disso. A partir da década de 1980, os filmes de anime começaram a ganhar espaço no exterior. Filmes como Akira, de Katsuhiro Otomo, ou Kaze no tani no Naushika (Nausicaä do Vale do Vento), do mestre Hayao Miyazaki, se tornaram grandes obras primas.

O Studio Ghibli é responsável por várias animações que fizeram sucesso no Japão e no resto do mundo. Filmes como Tonari no Totoro (Meu Vizinho Totoro), que foi lançado no Brasil em VHS pela Disney; Majo no Takkyubin (O Serviço de Entregas da Kiki), que foi lançado também no Brasil em VSH; Sen to Chihiro no Kamikakushi (A Viagem de Chihiro), que foi exibido no Brasil nos cinemas e teve seu lançamento em DVD, um dos poucos títulos nipônicos a passar nas telonas do nosso país e ainda por cima ter ganho em 2002 o Urso de Ouro no Festival de Berlim e em 2003 o Oscar de Melhor Filme de Animação, uma grande conquista; Neko no Ongeashi (O Reino dos Gatos) teve seu lançamento em DVD no Brasil; e por fim, Hauru no ugoku shiro (O Castelo Animado), que também passou nos cinemas brasileiros e foi lançado em DVD, além de ser indicado ao Oscar de Melhor Filme de Animação em 2006.


Foi a partir de 2000 que teve inicio a relação de amor de Hollywood com o cinema japonês. Vários filmes ganharam ramakes americanos, como foi o caso de O Chamado (Ringu) e Água Negra (Dark Water). Além de grandes nomes terem conseguido se consagrar, como foi o caso de Takeshi Kitano, com os filmes Zatoichi e Battle Royale, que chegaram à maioria dos cinemas do mundo e Hayao Miyazaki, com Sen to Chihiro no Kamikakushi (A Viagem de Chihiro).

Hayao Miyazaki e o logo do Studio Ghibli
Agora que já falamos do cinema, vamos voltar nossa atenção para a televisão. A indústria televisiva japonesa sempre esteve anos-luz à frente do resto do mundo. Já em 1960, existiam 5 canais de TV no país, que era o terceiro do mundo com o maior número de televisões coloridas. Em pouco tempo a televisão se tornou um fenômeno nacional. Atualmente cerca de 95% das pessoas assistem algum programa. O canal nacional é a NHK, porém outras emissoras de peso entram nessa concorrência, como é o caso da Fuji TV, Nippon TV, Asahi e TBS.

A televisão no Japão também é uma das formas de se ficar famoso. Não importa o que você faça. Cantores, humoristas, apresentadores, atores e atrizes, idols, dubladores... Todos que aparecem na televisão conseguem sua fama. E acreditem, existem até alguns que trabalham em mais de uma emissora e em mais de um programa. A televisão japonesa é algo totalmente viciante.

Nesse âmbito televisivo, existem alguns gêneros que acabam chamando a atenção de jovens e adultos. Temos o exemplo dos Doramas e Tokusatsus. Se você acha que só os brasileiros que gostam de novela, estão completamente enganados. O Dorama nada mais é que uma novela japonesa. Porém eles costumam ser curtos e não muito longos, como é o caso das novelas brasileiras. Existe todo o tipo de gêneros para o dorama: comédia, colegial, romance. Você nunca fica entediado. Os Tokusatsus são “novelas” com efeitos especiais. Esse gênero teve seu auge por volta dos anos 60 e 70. Algumas séries famosas de Tokusatsus são: Ultraman, Super Sentai (o que no ocidente é chamado de Power Ranger), Kamen Rider. Porém com a chegada da tecnologia computadorizada, o gênero acabou perdendo força, porém ainda tem muitos seguidores fieis.

Isso foi um pouco da história do cinema e da televisão japonesa, que revela que eles também influenciaram em alguns dos nossos costumes. Porém não pense que já acabou. Nada melhor do que os próprios amantes desses gêneros para falar um pouco sobre eles. Eu escolhi 2 deles e irei fazer uma pequena entrevista com 3 pessoas que são realmente fãs e poderão esclarecer algumas coisas.

O primeiro tema é o Tokusatsu. O entrevistado é André Cruz, fã desse gênero.

Qual foi o primeiro Tokusatsu que você acompanhou?

André: Kamen Rider Decade. Cheguei a ver outros antes, mas que tinham sido lançados em outros anos.

Como você começou a despertar interesse nesse gênero?

André: Eu gostava desde criança. Só que o interesse para começar a acompanhar os novos Tokusatsus veio com o Kamen Rider Kabuto. Achei os efeitos muito bons e fiquei curioso para ver como o resto dos gêneros (Super Sentai, Ultra, etc) haviam evoluído.

Em relação aos Super Sentai, ou como é chamado aqui no ocidente, Power Ranger, você tem algum que goste mais ou que tenha marcado?

André: Mighty Morphin Power Ranger. Me marcou muito por terem sido os heróis da minha infância.

Olhando as crianças da atualidade e os programas que elas assistem, o que você sente?

André: Isso varia muito de pessoa pra pessoa. Existem pais que criam seus filhos de uma maneira, onde ele só assiste programas compatíveis com a idade dele (desenhos e outros tipos de programas infantis.) e outros pais que criam seus filhos de qualquer jeito, deixando seus filhos livre para assistirem o que querem, dai os meninos e meninas assistem novelas das 9 e filmes que não deveriam. Nesse último caso, eu fico desapontado, porque a medida que isso acontece a infância, que era pra ser um momento de pureza do ser humano, fica descaracterizado, geralmente a criança é influenciada de forma não muito positiva .

Jaspion, o Tokusatsu mais popular do Brasil
Os jovens que hoje tem entre 20 e 30 anos e até mesmo os adultos, conseguiram acompanhar a Rede Manchete. A emissora que foi responsável por trazer os primeiros Tokusatsus para o Brasil. Exemplos são: Jaspion, Jiraya, Kamen Rider Black, Kamen Rider Black RX, Winspector etc. E animes como: Cavaleiros dos Zodíaco, Samurai Warriors, Shurato, Yu-Yu-Hakushô, Sailor Moon etc. Na sua opinião o que significou a Rede Manchete? E você também acompanhou alguma dessas séries na época?

André: Acompanhei sim, um pouco de Jaspion, Jiraya bastante, Shurato e o clássico Yu-Yu Hakusho. Cara foi importante pra despertar o gosto pelos Tokusatsus na galera mais velha né. Digamos que através dela surgiu o início da fanbase de Tokusatsus do brasil. Nesse sentido, devemos a manchete alguns coisas.

Obrigado André pelo seu tempo e por responder a essas perguntas.

André: Sem problema. Qualquer coisa estamos ai.

O segundo tema é o cinema e eu resolvi escolher o Studio Ghibli em particular pois 2 de seus filmes tiveram repercussão internacional. Sen to Chihiro no Kamikakushi (A Viagem de Chihiro) e Hauru no ugoku shiro (O Castelo Animado). A segunda entrevistada será Ana Luiza. Ela é grande fã das obras do mestre Miyazaki.

Como você começou a se interessar pelos filmes do Studio Ghibli?

Ana Luiza: Sempre assisti muitos filmes desde pequena, quando morei em Minas, nós frequentávamos uma pequena locadora que tinha um VHS de Meu Vizinho Totoro (Tonari no Totoro). Na época eu não tinha ideia de quem era Hayao Miyazaki ou Studio Ghibli, mas era o meu filme preferido! Eu sempre o locava e ficava me perguntando quando a dona da locadora iria dá-lo para mim. Mas ela nunca deu.

Como uma grade fã das obras do mestre Miyazaki, qual foi sua reação ao saber que dois de seus filmes iriam passar nos cinemas brasileiros e ainda haviam sido indicados ao Oscar de Melhor de Filme de Animação?

Ana Luiza: Eu só descobri que A Viagem de Chihiro era do mesmo criador de Totoro quando fui assistir ao filme e vi logo no começo a logo do Ghibli, que é o Totoro. Depois que descobri isso, fui procurar sobre o Miyazaki e descobri vários dos seus trabalhos maravilhosos e quem ele era. E quando O Castelo Animado veio para os cinemas brasileiros eu já estava avisada! É uma pena que esses filmes de animação não encham salas de cinema, pois são verdadeiras obras de arte.

Qual dos filmes da Ghibli mais marcou você? E qual lição você tirou dele?

Ana Luiza: Com certeza Totoro é o meu grande favorito! O filme carrega lições delicadas e belíssimas. Adoro a ligação que o Miyazaki tem com a natureza, como ele explora ludicamente esse tema, como ele representa os personagens, trabalha com o folclore japonês, sempre inserindo sua cultura nos filmes, fazendo-nos amar todo aquele universo. E o filme me marcou muito por eu ter visto ainda pequena. Esse tipo de fantasia não sai da mente de uma criança.

Todos os grandes fãs de Miyazaki tem um sonho: visitar o Museu do Studio Ghibli. Se algum dia você tiver a chance de ir visita-lo, qual seria sua primeira reação? E qual lembrança traria de lá?

Ana Luiza: Só de pensar em ir para o Japão já é uma grande emoção, pois sempre gostei muito da cultura em geral, mas ter a oportunidade de entrar no Museu Ghibli seria quase um frenesi! Primeiro porque eu adoro museus, e depois porque tudo que eu mais adoro dos filmes e produções do Ghibli estariam reunidas em um só lugar, prontos para o meu deleite! Acredito que seria um dos dias em que a felicidade transbordaria e lembranças boas preencheriam para sempre a minha memória.

Se fosse para indicar um dos diversos filmes da Ghibli para algum amigo, qual seria?

Ana Luiza: Sua obra prima, A Viagem de Chihiro. Esse filme é divino! A arte, a história, a trilha sonora. Tudo se encaixa em perfeita harmonia fazendo o expectador mergulhar sem pensar duas vezes naquele universo fantástico! Mas se você só assistiu A Viagem de Chihiro, tem que assistir aos outros filmes: Nausicaä e se gosta de histórias de amor, assista Whisper Of The Heart, acredito que esse filme seja mais conhecido pelo nome em inglês, mas em português fica algo como "Sussurro do Coração". E se tiverem oportunidade, assistam todos!

A Viagem de Chihiro
Agora vamos a última pergunta: Se você tivesse a chance de conversar com Miyazaki o que você diria a ele e o que perguntaria?

Ana Luiza: Depois de quase ter uma parada cardíaca, diria que ele é um dos maiores cineastas e artistas vivos, e que o trabalho dele será sempre lembrado pela sutileza, criatividade e maestria em técnicas de animação. Eu gosto muito do processo criativo de um filme de animação, e apesar de já ter visto os making off dos filmes em extras de DVDs, perguntaria se poderia ver rascunhos, pinturas, story boards, design de personagens e ideias originais dos filmes, com certeza seria um momento precioso que levaria comigo para o resto da vida.

Tenho que agradecer a colaboração de André e de Ana Luiza por terem me ajudado dando essa entrevista. E com isso chego ao fim do post dessa semana. Espero que todos gostem e semana que vem tem muito mais.

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