O Lar das Crianças Peculiares destaca o estranho em uma fantasia que desafia o tempo e a lógica


É comum, ao assistir um dos trabalhos do produtor e diretor Tim Burton, esperar o estranho e o bizarro. Não é surpresa, então, vê-lo na direção da adaptação para os cinemas da obra O Orfanato da Srta. Peregrine Para Crianças Peculiares, escrita por Ransom Riggs, que conta a história de um grupo de crianças com habilidades especiais, como um garoto invisível e uma jovem que é mais leve que o ar.

No Brasil, sob o título O Lar das Crianças Peculiares, o longa segue a história do jovem Jake (Asa Butterfield), que após vivenciar uma trágica perda de um familiar, resolve viajar para uma pequena ilha no País de Gales. Lá, Jake vai até o antigo orfanato em que seu avô passou anos de sua vida, apenas para encontrá-lo em ruínas, quando é surpreendido por estranhas crianças que o levam através de um loop no tempo para o orfanato em 1943. Exatamente como contado por seu avô, as crianças possuem habilidades únicas, assim como a responsável pelo orfanato, a Srta. Peregrine (Eva Green).

Não há que se negar que a premissa, por si só, já é bastante interessante. Aqueles que nascem com diferentes singularidades são chamados de peculiares, uma escolha correta de palavras, uma vez que são bastante incomuns as características apresentadas por esse tipo de pessoa. Para proteger as crianças com peculiaridades, são criadas fendas no tempo inalcançáveis para humanos normais e que permitem que as crianças nunca envelheçam.

Mas a história vai além disso. Toda a parte introdutória da trama se volta para a relação entre Jake e seu avô Abe (Terence Stamp), que conta ao neto sobre suas aventuras e o tempo em que viveu com os peculiares no orfanato da Srta. Peregrine. Isso acaba servindo bem para criar um ar de incerteza sobre a existência ou não das maravilhas vividas por Abe, além inserir os elementos inusitados da narrativa de maneira natural.

Também é intrigante ver o primeiro contato de Jake com o orfanato, quando são introduzidas todas as diferentes crianças e suas incríveis habilidades. Ao mesmo tempo que é possível se maravilhar com algumas delas, outras causam um certo choque, o que é de se esperar diante de um filme de Tim Burton, mas acrescentado a um aspecto de fantasia.

Por outro lado, O Lar das Crianças Peculiares não chega a ser tão excêntrico quanto antigos trabalhos do diretor, como Edward Mãos de Tesoura e Sweeney Todd. Definitivamente há uma estranheza, mas o filme não chega a ser peculiar. A trama cai, em alguns momentos, em conclusões e reações previsíveis dos personagens, fora que a história se complica em alguns pontos com certas falhas decorrentes do desenvolvimento apressado da trama no seu terço final.

Ainda assim, existe um brilho que deve ser apreciado. Por mais que a narrativa pareça direta no momento em que se revelam os perigos a que estão sujeitas as crianças, a história ainda é muito bem contada e a cinematografia é impecável. Os efeitos, CG e maquiagem se misturam muito bem, trazendo uma boa imersão à obra.

Há também instantes que chamam atenção, como uma breve cena em stop motion (uma técnica de animação utilizada inúmeras vezes no passado por Tim Burton) e a atuação de Eva Green como a elegante e atemporal Srta. Peregrine, sempre espetacular, mas que definitivamente merecia mais tempo de tela.

A presença de Samuel L. Jackson no papel do vilão é outro ponto notável. Ainda que exagerada, a atuação acrescenta ao ar excêntrico que a trama pede, apresentando momentos cômicos que servem para dar um alívio em meio ao sombrio caráter do vilão.

O Lar das Crianças Peculiares pode não ser a nova obra prima que muitos esperavam, mas definitivamente possui seus momentos de glória. Sua estranheza e características únicas a tornam em uma fantasia singular que vale ser assistido e aproveitado.

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